Ismael Nery dizia que não era artista, era filósofo; que não era pintor, era poeta; não defendia a nacionalização da arte, como os modernistas de sua época, mas, ao contrário, entendia a expressão artística em seu sentido mais amplo, universal, entrelaçando todas as correntes de pensamento e estética; não se fixava na natureza, mas no ser humano, conseqüentemente, não pintava paisagens, marinhas ou naturezas mortas, mas somente seres humanos, em momentos triviais: nem angústia, nem desespero, nem perplexidade; apenas o cotidiano das pessoas.
Ismael Nery nasceu em Belém do Pará em 1900 e morreu na cidade do Rio de Janeiro em 1934 na fase mais importante de seu trabalho, o Surrealismo, por isso mesmo, não chegou a florescer nele, pois se iniciou em 1927, durando pouco mais de seis anos.
Em toda vida, não pintou mais que uma centena de quadros, realizou duas exposições individuais, e nelas conseguiu vender apenas um quadro. Já não se pode dizer o mesmo de sua produção como desenhista. Fazia desenhos em quantidade espantosa, os quais, na opinião de especialistas, eram até melhores que sua pintura. Porém, também nessa atividade não se valorizou, jogando seus trabalhos sistematicamente ao lixo, assim que terminados. Conhecemos, dos desenhos de Nery, apenas aqueles que foram salvos da lixeira, muitos deles amarrotados.
Em 1927 viajou para a Europa, conhecendo o pintor judeu-russo Marc Chagall, que exerceu forte influência em sua carreira, a qual, a partir de então, voltou-se para o Surrealismo.
Costuma-se dividir a obra de Ismael Nery em três fases: de 1922 a 1923, a expressionista; de 1924 a 1927, a cubista, com evidente influência da fase azul de Pablo Picasso; finalmente, de 1927 a 1934, adotou o Surrealismo, sua fase mais importante e promissora.
Portador de tuberculose veio a falecer 1934. Tragado pela morte, o destino impediu-o de provar até onde seria capaz de chegar nesta última fase, que poderia trazer a sua efetiva consagração como artista.
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